quinta-feira, maio 09, 2013
quarta-feira, setembro 05, 2012
Diferença: construção social
Desde que
as sociedades existem e desenvolvem relações entre si a problemática da diferença existe enquanto fator de
demarcação. Não é provável, pois, que exista uma cultura tão isolada que não
tenha nenhuma espécie de relação com outras. Se isto é um axioma, dele decorre
que a perceção da alteridade é um fenómeno universal e, consequentemente, a diferença é uma constante na história da
humanidade.
A
expansão das civilizações greco-romanas, os descobrimentos ibéricos, a formação
dos grandes impérios coloniais e, mais recentemente, a globalização são
momentos particularmente interessantes para compreender o modo imagético como o
Ocidente construiu imagens poderosas para enclausurar o Outro em posições de
inferioridade. A domesticação das diferenças é um legado da Antiguidade Grega.
O conceito de bárbaro começou por
designar simplesmente os povos não gregos, os considerados estrangeiros, os metecos, vindo mais tarde a considerar
como bárbaros todos os povos
diferentes deles, por estes não expressarem consideração pela polis, pela língua helénica e pelos
ideais literários e artísticos das cidades-estados (cf. Mossé, [1993] 1999).
A
partir do século XVIII, a leitura das narrativas do passado adquire uma nova
dimensão. A ilustração passa a compreender a história em termos do
desenvolvimento do espírito humano enfatizando a explicação das desigualdades a
partir da natureza. O selvagem, como singularidade exótica, transmuta-se em homem dos primórdios
da humanidade, o primitivo. A
conceção de natureza humana universal
ou a noção de humanidade, descrita
por Lévi-Strauss ([1952] 2006), faz
desaparecer a ideia de selvagem como
construção exótica. As novas conceções admitem que as diferenças de costumes podem ser lidas como um grande mapa da
humanidade e, consequentemente, explicar as várias etapas da evolução humana.
Até
ao início da segunda Guerra Mundial, diversos biólogos, naturalistas, médicos,
entre outros, contribuíram com os seus estudos para a definição conceptual das
diferenças humanas em termos de raça,
adquirindo a cultura uma nova importância. A racialização das diferenças foi um
processo que se construiu e desenvolveu, sobretudo, em contextos coloniais. A
distância cultural que separa o nativo da metrópole faz emergir uma cultura
detentora de especificidades própria. É homogénea, com hábitos e valores
simbólicos sustentados e não comparáveis: a racialização transmuta-se
progressivamente, num processo de etnicização (cf.
Fernandes, 1998; Machado F. L, 2002). Com este processo, que sucede com
o fim da segunda Guerra Mundial e da ideologia nazi, que defendia a
superioridade e a pureza racial, as explicações pela raça entram em declínio. Para isso, tem contribuído, em particular,
a UNESCO que convidou reputados investigadores de diferentes áreas do conhecimento
científico para construírem uma nova abordagem desta problemática. As
referências à raça desaparecem
substituindo-a por referências às diferenças étnicas e culturais. (Machado F.
L., 2002: 327).
As
diferenças manifestam-se através de declarações de pertença e de não pertença,
de inclusão e de exclusão: “é suficiente para ‘nós’ estabelecer essas
fronteiras na nossa mente; por conseguinte, ‘eles’ tornam-se ‘eles’, e tanto o
território como a mentalidade ‘deles’ são referidos como sendo diferentes dos “nossos”
(Said, 1997: 62). A diferença não é neutra, razão pela qual desenvolve tensões
e conflitos, receios e inquietações (Wieviorka,
[1992]1995; Touraine, 1998). A diferenciação apoia-se nas
particularidades atribuídas de forma imutável aos grupos e generalizadas a
todos os seus membros (Amâncio, 1994). No
entanto, estas características “são mutáveis e não definitivas, são abertas e
não fechadas” (Machado F. L., 2002: 32 ), podem
ser constantemente reinventadas e reinterpretadas (Herskovits, [1948]1952, citado por Cuche, 1999: 170), e permitem a
emergência de culturas sincréticas
(Cuche, 1999: 82; Robertson, 1992: 66), mestiças (Wieviorka, 2002: 80),
integrando num mesmo sistema elementos tomados de empréstimo doutras culturas (Sapir, 1949, citado por Cuche: 61).
A
construção da diferença não era neutra, estava associada à desigualdade e à discriminação.
Este processamento de diferenciação simbólica manifesta-se na desumanização do outro (Amâncio, 1994), tendo sido “justificada pela
Igreja e pelo Estado na base de que as pessoas têm distintas naturezas, e
algumas naturezas são melhores que outras”
(Young, 2000: 264). Na tradição, explica Iris Young, a lei e as normas
sociais definiam os direitos, os privilégios e obrigações de maneira diferente
nos diversos grupos que se distinguiam por características de sexo, raça,
religião, classe social ou pelo exercício da profissionalidade/ocupação.
Young considera que, com a emergência do iluminismo, se
anuncia uma nova conceção revolucionária da humanidade e da sociedade: todas as
pessoas são iguais, na medida em que todas têm uma capacidade para a razão e
para o sentido moral. Os ideais de liberdade e igualdade, defendidos pelo
iluminismo, inspiraram e inspiram movimentos contra a opressão e a dominação,
cujo êxito permitiu que se criassem valores e instituições sociais que
constituem o alicerce das sociedades contemporâneas.
Young
admite que é necessário insistir na igualdade e na liberdade pelo facto de a
diferença entre grupos continuar a existir, não se podendo, por isso, ignorar
estas diferenças porque elas têm consequências opressivas em três sentidos: em
primeiro lugar, a cegueira frente à diferença põe em situação de desvantagem os
grupos cuja experiência cultural e as capacidades socializadas diferem das que
têm os grupos privilegiados; em segundo lugar, o ideal de uma humanidade
universal sem diferenças de grupos sociais tende a que sejam os grupos
dominantes a definir as normas da humanidade em geral; em terceiro lugar, estes
grupos que se desviam de um critério, supostamente, neutral tendem a uma
desvalorização internalizada por parte dos membros desses mesmos grupos (cf. Young, 2000: 276-278).
Os
diferentes grupos compartilham algumas similaridades em alguns aspetos e sempre
compartilham potencialmente alguns atributos, experiências e objetivos. A
alternativa a um significado de diferença, que essencializa e estigmatiza, é
uma compreensão da diferença como especificidade e variação. A compreensão relacional da diferença cria uma
oportunidade para refletir acerca da identidade e, para se compreender
igualmente, a necessidade de construção de novos significados para a identidade
de grupo (cf. Young, 2000: 288-290).
Referencias Bibliográficas
Amâncio, L. (1994). A Construção
Social da Diferença. Porto: Edições Afrontamento.
Cuche, D. (1999). A Noção de Cultura
nas Ciências Sociais. Lisboa: Fim de Século Edições.
Lévi-strauss, C. ([1952] 2006). Raça
e História. Lisboa: Editorial Presença.
Machado, F. L. (2002). Contrastes e
Continuidades - Migrações, Etnicidade e Integração dos Guineenses em Portugal.
Lisboa: Celta Editora.
Mossé, C. ([1993] 1999). O Cidadão
na Grécia Antiga. Lisboa: Edições 70.
Said, E. W. (1997). Orientalismo.
Lisboa: Livros Cotovia.
Touraine, A. (1998). Iguais e
Diferentes - Podemos Viver Juntos. Lisboa: Instituto Piaget.
Wieviorka, M. ([1992]1995). Racismo
e Modernidade. Lisboa: Bertrand Editora.
Young, I. M. (2000). La Justicia y
la Política de la Diferencia. Madrid: Ediciones Cátedra.
sexta-feira, janeiro 27, 2012
Carta dirigida à Senhora Presidente do Conselho Geral
À Presidente do Conselho
Geral Transitório
do AERF – Dr.ª. Maria Filipa Baganha
do AERF – Dr.ª. Maria Filipa Baganha
Ex.ª
Senhora Presidente,
No passado dia 18 de Janeiro, pelas 17.00 horas, na sala da
Associação de Pais da escola sede do Agrupamento, fui entrevistado pela
Comissão do Conselho Geral responsável pela apreciação das candidaturas ao
lugar de Diretor. Nesta entrevista, registaram-se dois acontecimentos que me
induziram a escrever-lhe.
1º – Problema – A
primeira pergunta que a Senhora Presidente me fez foi: sabe qual é o número de professores e alunos existentes no Agrupamento?
Esclarecimento – Esta pergunta tende a
beneficiar um dos candidatos ao cargo de Diretor, a candidata Maria José
Ascensão. O exercício do cargo de Presidente da C.A.P. do AERF permite-lhe ter
acesso a informação privilegiada. Não
é possível conhecer o que não é do domínio
público. Até à data da entrevista não estava publicada no site ou em qualquer outro local da sede
do Agrupamento a informação que me foi solicitada. Como dar uma resposta clara,
precisa e concisa a uma pergunta para a qual não existe informação disponível?
Aconselho – Esta questão (e outras
semelhantes, no caso de existirem) deverá, pelas razões supramencionadas, ser
retirada da grelha de avaliação dos candidatos a Diretor do AERF pelas razões
expressas.
2º – Problema – Já no final da minha
entrevista, uma das representantes no Conselho Geral da Comunidade Local/Museu
Nacional Soares dos Reis, a Senhora Maria João Vasconcelos, teceu a seguinte
consideração: … o que disse acerca do
orçamento não é assim!
Esclarecimento – As considerações e/ou
propostas que fiz acerca do orçamento privativo do AERF, nomeadamente no que se
refere à terminologia e/ou à utilização dos recursos públicos financeiros contemplados
no orçamento privativo do AERF, assim
como a classificação económica das
despesas públicas que utilizei na minha argumentação, como foi o caso das Despesas de capital e Despesas correntes (aquisições de serviço que contemplam, entre outros, os consumos de
secretaria) provêm do que está plasmado no Decreto-lei nº 26/2002 de 14 de
Fevereiro, assim como de numerosíssimas circulares e ofícios-circulares que o
Gabinete de Gestão Financeira do Ministério da Educação remete para as
Escolas/Agrupamento de Escolas relativas às Despesas
de Capital e Despesas Correntes
(classificações económicas 06.02.03.C0.00.00 e 11.02.00.00.00). As alterações
orçamentais entre vários blocos de despesas são da competência do próprio
Agrupamento, como referem numerosíssimos documentos oficiais.
Aconselho – Os membros do Conselho
Geral não são obrigados a dominar e/ou conhecer em pormenor as terminologias
usadas nos orçamentos privativos e as
classificações económicas das despesas
públicas. É-lhes exigido, no entanto, alguma cautela nas afirmações que
fazem para não prejudicar, ainda que involuntariamente, os entrevistados. A
leitura do no Decreto-lei nº 26/2002 de 14 de Fevereiro, bem como muito
contribuirá para o esclarecimento desta questão.
Ex.ª Senhora Presidente do Conselho Geral Provisório do AERF
Solicito, p.f., que seja dado conhecimento desta minha carta
à Comissão do Conselho Geral responsável pela apreciação das candidaturas ao
lugar de Diretor, bem como ao próprio Conselho Geral.
Porto, 19 de Janeiro de 2012
O
Candidato a Diretor do AERF
Carlos Jorge dos Santos Sousa
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