segunda-feira, março 09, 2020

As carquejeiras durante o séc. XIX início do séc. XX



Carquejeiras - As Escravas do Porto - Documentários - RTP
                                    https://www.rtp.pt/programa/tv/p38527
No passado dia 8 de Março, pelas 19,42 horas, foi exibido um documentário sobre “As carquejeiras que durante o séc. XIX início do séc. XX faziam chegar à cidade a carqueja que descarregavam dos barcos acostados às margens do Douro.” 

Este trabalho era desenvolvido fundamentalmente por mulheres e o documentário pretende ser uma “Homenagem a mulheres esquecidas que desempenharam uma tarefa fundamental para o desenvolvimento da cidade do Porto.” Este “drama silencioso e silenciado destas escravas do Porto”, aqui apresentado, demonstra as desgraças e as desventuras de quem este trabalho exerceu. Trabalho imposto pela miséria, pela fome, e desqualificação social destas mulheres e das suas famílias. E, sobretudo, pela manifesta indiferença, social e comunitária a que eram sujeitas. É, neste contexto de exercício de uma profissão, que a palavra trabalho mais se aproxima da sua etimologia: (do latim tripalìum) '”instrumento de tortura”. Na realidade “Estas "Mulheres-escravas", dobradas pelo peso da carqueja e da sua condição social, calcorreavam calçadas, ruas, vielas e ruelas da cidade do Porto, percorrendo distâncias de cinco quilómetros ou mais, no desempenho de um árduo trabalho que permitia que se cozesse pão, se acendessem fogões a lenha ou se aquecessem as lareiras das casas mais abastadas da cidade nevoenta e fria.”

As fontes de energia

Jardim da Estrela - Lisboa
Se recuarmos, não mais de duzentos anos, constatamos que as fontes de energia da sociedade portuguesa provinham de fontes de energia que hoje consideramos ecologicamente prejudiciais, nalguns casos extintas ou pouco importantes para produzir bens e serviços que respondam as nossas necessidades. Mas, a lenha, o vento e a água continuam, cada vez mais, a ser necessários.

As carquejeiras existiam no Porto em Lisboa e noutras cidades. O abastecimento de lenha e carvão vegetal às cidades do Porto, de Lisboa, vilas e aldeias fez emergir novas formas de trabalho: o dono das propriedades, o carvoeiro ou mateiro (encarregado de zelar pelas matas ou florestas), os transportadores de lenha que o poderiam fazer em barcos (barqueiros) e/ou utilizando animais, os proprietários de estâncias, carvoarias e tendas, os revendedores e atravessadores (intermediário). O abastecimento das cidades faz emergir um autêntico mercado energético do qual deriva uma turba de agentes e interesses. Este mercado é regulado pelas Câmaras Municipais e pelo Rei. É, neste contexto, que surgem, entre outras profissões, as mulheres carquejeiras e homens que também existem, sobretudo na cidade de Lisboa, que fazem o trabalho de transporte da carqueja pelas cidades, vilas e aldeias.  


tradutor