quinta-feira, março 09, 2023

Era fundamental que a praça do império mudasse de nome  

 

Proposta de Beatriz Gomes Dias no jornal publico de Hoje  

(sábado 04 de Março de 2023) 

 

    Ao longo da história, muitas culturas e grupos étnicos foram forçados a adaptar-se às tradições e crenças dos conquistadores e/ou colonizadores. Os judeus foram um exemplo disso, quando muitos foram cristianizados à força ou sofreram perseguição por causa da sua religião. As mesquitas foram destruídas e substituídas por igrejas como parte do processo de conversão dos muçulmanos. Os escravos, foram batizados para receber nomes cristãos como parte do processo de assimilação à cultura dominante. Da mesma forma, os ciganos foram frequentemente tratados como pessoas de segunda classe e foram forçados a adaptar-se aos costumes e tradições da sociedade dominante. 

As mulheres foram frequentemente subjugadas e limitadas nos seus papéis sociais, sendo consideradas principalmente como mães e cuidadoras. No entanto, as lutas feministas ao longo do tempo ajudaram a mudar essa perceção e a abrir caminho para uma progressiva igualdade de género. 

 

    Hoje em dia, a sociedade está cada vez mais consciente da importância da inclusão e da valorização da diversidade cultural. Isso reflete-se em iniciativas como a substituição de nomes de ruas que homenageiam figuras históricas controversas ou perpetuam estereótipos prejudiciais. As cidades estão a escolher nomes que reflitam a diversidade e a inclusão da população atual. 

 

    Embora ainda haja muito a ser feito para garantir a igualdade e a justiça social em todas as áreas da sociedade, é encorajador ver que as pessoas estão cada vez mais conscientes e comprometidas em promover a diversidade e a inclusão nas suas comunidades. 

 

    Embora a mudança de nomes de ruas seja uma tendência recente, é verdade que a história está repleta de exemplos de grupos minoritários que foram forçados a adaptar-se à cultura dominante. 

 

    No entanto, a grande diferença é que hoje procuramos ativamente valorizar a diversidade cultural e promover a inclusão invés de continuar a impor a cultura dominante sobre as minorias. A substituição dos nomes de ruas são uma tentativa de resposta as necessárias mudanças de mentalidade, mostrando que estamos dispostos a (re)conhecer o passado e trabalhar para criar um futuro mais inclusivo e igualitário. 

 

    Mas, é importante destacar que as mudanças dos nomes de ruas não são uma solução mágica para resolver os problemas históricos de exclusão e opressão. É necessário continuar a lutar e trabalhar para promover a justiça social e garantir que todas as pessoas sejam igualmente valorizadas e respeitadas. 

 

    De facto, substituir nomes de ruas não é diferente do que sempre se fez e que narrei na parte inicial deste texto e pode ser interpretado como uma forma de apagar ou destruir a história. Por isso considero que se deve explicar e colocar documentação adequada sobre as razões originais dos nomes e o contexto histórico em que foram escolhidos. Acabemos com a cultura de substituir o velho e dominante pelo “novo dominante”.  

 

 

    Não é necessário destruir as peças de arte, edifícios ou outras estruturas históricas que contêm representações de pessoas escravizadas ou foram construídos por mão-de-obra operária explorada. Esses objetos e locais são parte da história e da cultura humanas e podem ser usados como oportunidades para aprender e educar sobre as injustiças do passado. 

 

    No entanto, é importante contextualizar essas representações e estruturas, informando sobre a história da escravidão e da exploração para que sejam compreendidas na sua totalidade e não romantizadas. Podemos também adicionar informações explicativas sobre a mão-de-obra operária explorada que construiu vilas, cidades e outros locais, a fim de consciencializar as pessoas sobre as desigualdades sociais e económicas que historicamente ocorreram. 

 

    Nesse sentido, uma alternativa interessante seria manter os nomes originais das ruas, mas incluir lápides alusivas e explicativas, fornecendo informações adicionais sobre a história e o contexto em que foram escolhidos. Isso permitiria que as pessoas aprendessem mais sobre a história local e sua diversidade cultural, sem apagar o passado. 

 

    É importante lembrar que a história não é estática e está sempre em evolução. Ao mesmo tempo, a preservação da memória coletiva é fundamental para compreendermos o presente e planearmos o futuro. Portanto, a inclusão de informações explicativas sobre os nomes das ruas pode ser uma solução viável para conciliar a preservação da história com a promoção da diversidade e da inclusão independentemente da sua origem ou identidade. 

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