sexta-feira, outubro 27, 2006

Estado providência

É no Estado providência que se constroem as solidariedades, que se tece o combate contra as desigualdades sociais, que se constrói uma cultura democrática que ajudará a formar cidadãos que acreditem que a democracia e a igualdade política são objectivos desejáveis.

O Estado providência desenvolve e aplica uma serie de programas de politica social e económica, com o objectivo de (re)destribuir a riqueza de forma mais justa e igualitária. Estes programas visam proteger e/ou diminuir a pobreza, proporcionara aos cidadãos em geral um serviços nacional de saúde, uma escola publica de qualidade, um rendimento mínimo garantido para os que nada possuem, entre outras medidas socialmente relevantes.

Classes médias

Politicamente a importância das classes médias nas sociedades capitalistas desenvolvidas foi crucial, pois foi o crescimento das classes médias que permitiu um pacto social pela qual o Estado, as empresas e os trabalhadores pareciam assumir um projecto comum de sociedade em que o Estado Social e o Estado Providencia surgem como modelo teórico desse pacto social.

O estado providência contemporâneo surge no pós-guerra e como consequência do consenso que se construiu entre todas as forças políticas enroupeis. Em Portugal o estado providência é uma realidade com pouco mais de trinta anos.

Estado providencia já não serve?

Todos os que se organizam em torno da ideia de que o estado providencia já não serve, que se tornou demasiado oneroso relativamente a outros modelos não se preocupam com as fugas de capitais, com o não pagamento dos impostos de um número significativo de empresas. Hostilizam o Estado e defendem as praças financeiras offshore ou paraísos fiscais; o não aumento dos impostos para a Banca, os seguros, entre outros. São os mesmos que consideram que o mercado é bom e as intervenções do Estado são más, que exigem desregulamentação das leis do trabalho, liberalização do mercado e da circulação de capitais, privatização das empresas nacionalizadas/públicas: as telecomunicações, os bancos, os seguros, os C.T.T., a Telecom e a Petrogal não podem escapar à lei da procura e da oferta, defendem.

Desregulação, liberalização e privatização é a palavra de ordem da nova central do capital que exige uma espécie de luta de libertação do capital. Mas, os que exigem menos Estado e mais mercado, os principais queixosos dos excessos do Estado social servem-se do mesmo para estabelecer acordos de pré-reforma com os seus trabalhadores, rejuvenescendo o seu pessoal à custa dos contribuintes.

Novos jornaleiros

Os novos jornaleiros, deste século são formados na sua maioria pelos desempregados das classes médias. A precarização do seu trabalho obriga-os a estarem prontos para o que der e vier. Os gestores possuem recursos humanos suficientes e grátis para recorrerem sempre que necessário: todos os dias existem milhares de pessoas que perdem o seu posto de trabalho; todos os dias os saberes profissionais são desqualificados.

Antigamente a construção de uma empresa industrial comprometia-se e assegurava localmente, por um período de décadas, os posto de trabalho de milhares de trabalhadores. Hoje, o Estado oferece terrenos, isenção de impostos, um conjunto indeterminável de benefícios para a instalação de grandes empresas multinacionais na esperança de estas criarem novos postos de trabalho, desenvolverem a economia dos país, trazerem novas competências tecnológicas aos trabalhadores portugueses. Mas, estas empresas comprometem-se (somente) com a criação de algumas centenas de postos de trabalhos e deslocalizam-se antes, dos compromissos assumidos com o Estado, terem sido satisfeitos. A transformação técnica desqualificou os saberes profissionais, precarizou-o e tornou-o mais supérfluo.


A mundialização/globalização pode-se tornar uma armadilha para a democracia?!

As classes médias pagarão a crise ou engrossarão o grupo de cidadãos excedentários e inúteis?

quinta-feira, outubro 19, 2006

Que importância assume a prestação do serviço militar na vida (durante a 1ª Grande Guerra) de António Maia?

(ver vídeo da 1ª G.G.)

A sua participação na Grande Guerra abre-lhe novas possibilidades relacionais. As janelas abrem-se, ainda mais com a sua ida para França, toma contacto com outra realidade sócio-cultural, apercebe-se que existem outros mundos. Convive de perto, muito perto, com a realidade devastadora de guerra, dará outro significado à existência humana, compreenderá diferenças, crescerá como pessoa, os seus horizontes alargam-se, as suas novas amizades foram tecidas em situações em que a solidariedade é a arma mais eficaz, mais necessária, os seus amigos são agora muitos mais. A Guerra é devastadora, perversa e bárbara mas, para os que sobrevivem, contém ensinamentos que disciplinam e educam. A experiência da guerra evidencia muitas das incompletudes, de que o ser humano é feito, porque ele é o portal de inexplicáveis desmandos.

Porque não existem experiências cegas desprovidas de sentido António Maia, entrou na tenda dos desmandos e escutou-lhe os sentidos. A guerra provoca: o sentimento de angústia, faz relembrar a existência do indivíduo no mundo entendida num contínuo risco de definhamento; o sentimento de medo que debilita o indivíduo, deixando-o abandonado e sem amparo; o sentimento de solidariedade que emerge da radicalização de todos os outros sentimentos e da consequente necessidade de entreajuda; o sentimento de coragem que se expressa na necessidade de o indivíduo compreender a realidade em que está emerso e aprender a lidar com ela. A guerra alojou os indivíduos nestes sentimentos, com eles guerreavam e, ao guerrearem, transformavam-se.


António Maia estava na sua primeira estação de vida, a sua permanência aqui dilatou-se mais do que seria desejado, a demora foi duradoura, razão pela qual, não passou de uma estação para outra, como seria normal, saltou-as. De tal forma isto aconteceu, que andou por mares nunca antes navegados, descobriu caminhos nunca percorridos, e fez parte da experiência do futuro.


António Maia torna-se um homem de respeito não só para sua família, para a generalidade das comunidades ciganas, como igualmente, para a generalidade da sociedade portuguesa.








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domingo, outubro 15, 2006

Educação e ensino: o (des)investimento nos professores

A Globalização


Os economistas e os políticos constroem explicações para o aumento do desemprego e para as diversas crises que a sociedade Portuguesa vive nos domínios da educação, saúde e justiça, convergindo, todas as explicações, numa única direcção: mundialização/globalização. As altas tecnologias da informação/comunicação, a livre circulação de mercadorias, o comércio livre ilimitado tendem a transformar o mundo inteiro num único mercado. Estes factos criam uma concorrência mundial nunca antes vista, com consequência para no mercado de trabalho, dizem. Legitimasse a procura, fora dos mercados nacionais, de mão-de-obra mais barata. Isto é, as novas empresas globalizadas procuram adaptara-se à nova realidade, pagando salários mais baixos.


Os sacrifícios exigidos


São necessários mais sacrifícios para estarmos preparados para enfrentar as novas exigências da globalização, dizem. Os empresários e os políticos portugueses, neste aspecto, não diferem muito dos seus parceiros europeus: pensam localmente as necessidades da sociedade globalizada e repetem, sem grandes mudanças nos discursos: é necessário que os cidadãos façam mais sacrifícios, sobretudo aqueles que gozam de grandes privilégios conquistaram nos pós – 25 de Abril, como é o caso dos professores, dos juízes e dos médicos. Os professores portugueses trabalham menos que os seus colegas europeus, gozam demasiadas baixas por doença, tem dos mais altos salários da Europa comunitária, etc., etc., etc. As políticas públicas, em todos os domínios da sua intervenção, necessitam e apoiam-se em informações estatísticas que as próprias instituições produzem para avaliar e divulgar os seus desempenhos, assim como, corrigir/alterar procedimentos.


As estatísticas


A estatística é uma actividade desenvolvida por organismos/instituições cada vez mais especializadas, constituídas no seio do aparelho de Estado, envolvendo a produção de normas de classificação e ordenamento que permitem a comparabilidade das informações e uma certa estabilidade no tempo, e de técnicas e metodologias de trabalho que permitem a produção de cifras cada vez mais precisas em relação à realidade que se pretende mensurar. Credibilidade e legitimidade passaram a ser características fundamentais a serem perseguidas, tanto pelas estatísticas como pelas agências que as produzem, sob pena de, ausentes tais atributos, umas e outras perderem completamente o sentido e a própria razão de serem. A competência técnica e (a dita) isenção constituem objectivos permanentes para esse tipo de entidade. As Estatística permitem obter um quadro mais objectivo (nunca totalmente objectivo!), porque traduzido em números (e não em relatos textuais), dos factos ocorridos em determinados domínios. As estatísticas não são neutras. Não são uma leitura objectiva e fiável das realidades que se propõe estudar. Podem igualmente ser instrumentalizadas em proveito do desenvolvimento de determinadas políticas, permitirem, por isso, ter leituras múltiplas, por vezes contraditórias. As estatísticas, em toda a sua complexidade, tentam reunidas as intencionalidades próprias de quem as interpreta. Convoco as estatísticas do Eurostat (2002) para precisar melhor as políticas que elas servem: Portugal diminuiu ligeiramente a despesa pública em educação em 2002, face aos dados de 2001, em percentagem do PIB, tendo, no entanto, ainda níveis de despesa relativamente elevados quando comparados com outros países europeus. Portugal é dos países com menor número de alunos por professor, sendo a média dos países da OCDE de 16,6 para o primeiro ciclo e 14,4 para o segundo, terceiro ciclo e secundário, enquanto que Portugal tem 11 e 9,3 respectivamente. Portugal apresenta os valores mais elevados de taxa de abandono escolar precoce da Europa, embora aquela taxa tenha vindo a registar uma diminuição. Verifica-se que apesar de ter havido um aumento na percentagem da população com pelo menos 12 anos de escolaridade, os níveis em Portugal continuam mais baixos que no resto dos países da Europa. Em 2003 a percentagem de população portuguesa que fez formação atingiu os 3,7%. De acordo com a tendência quase geral no resto dos países, os diplomados em ciências e tecnologia em Portugal têm vindo a aumentar ao longo dos últimos anos. Portugal contínua, no entanto, a apresentar um dos valores mais baixos da Europa. Portugal tem o nível mais baixo de produtividade do trabalho da UEI5, em termos reais, não registando convergência desde 1999.

Os saberes especializados

Poderia continuar a citar uma quantidade infindável de números que ajudam a situar Portugal na paisagem europeia, mas tal não é necessário. O que nos interessa, para esta analise, é que existe um oceano de numero que são produzidos pelos organismos internacionais/nacionais/públicos/privados e instrumentalizados pelos fazedores de opinião no sentido de justificar a necessidade de sacrifícios, nomeadamente para professores portugueses. Um coro, que funciona em uníssono, onde se encontram lado a lado economistas, políticos da esquerda à direita, alguns sindicalistas, peritos disto, daquilo e daqueloutro, ministros apoiados pelos seus auxiliares na imprensa e na televisão. Quem são os responsáveis pelos actual estado do ensino e da educação em Portugal? As sucessivas políticas educativas implementadas, desde o 25 de Abril, pelo P.S./P.S.D e pelos seus sucessivos ministros da educação? As Medidas económicas, financeiras e sociais dos sucessivos governos do P.S. e P.S.D.? O circo está instalado, os artistas encontrados, os palhaços ridicularizados. Para os (alguns) responsáveis políticos, para o P.S, o P.S. e o C.D.S., para os construtores de opiniões com dependências laborais dos grandes grupos de comunicação social - como são a o caso do Expresso, Jornal Público, a SIC, a TVI, entre outros - os grandes responsáveis pelo estado da educação e do ensino em Portugal são os professores!


Metamorfoses: os culpados


A tendência actual é culpabilizar os professores pelos fracassos e pelas dificuldades encontradas nas escolas, deslocando o foco das críticas dos alunos e dos pais para os professores. As estatísticas referem os professores que se afastam do seu trabalho por motivos de saúde? Referem quantos destes sofrem do Síndrome de Burnout?[1] Ao longo da história as pesquisas realizadas acerca do fracasso/ insucesso escolar dos alunos estiveram em princípio marcadas por um discurso biológico em que as causas do insucesso estavam relacionadas a factores genéticos, raciais ou hereditários dos indivíduos. Foi por volta dos anos 70 que essas teorias passaram a ser questionadas e um novo discurso foi construído: as explicações passaram a incidir na proveniência cultural dos alunos, dando origem as teorias da carência cultural. Estas falsas ideias acerca do insucesso escolar, da desvalorização e os preconceitos em relação aos filhos das classes trabalhadora eram quase sempre legitimadas pelos discursos científicos. As famílias acabavam por assumir a culpa pela sua exclusão, isentando as políticas educativas, a forma como a escola se organiza, a cultura organizacional da escola das suas responsabilidades sociais e educativas. As famílias culpabilizavam-se pelo insucesso dos seus filhos!


Os contextos escolares: as dificuldades


Nos nossos dias algumas professoras e alguns professores manifestam dificuldades em determinados contextos escolares para “controlar” e conquistar o interesse dos seus alunos assim como para manter a disciplina na sala de aula. Recentemente uma televisão utilizou uma câmara oculta para filmar situações de grande indisciplina e violência no interior de uma sala de aula. A professora assistia aos actos de violência que os alunos praticavam entre si. O assunto foi sensação nos órgãos de comunicação social. São, por vezes, referenciadas nos órgãos de comunicação social algumas das muitas situações de violência de que os professores são quotidianamente vitimas. Os professores e (mais) as professoras manifestam sentimentos de impotência frente às adversidades encontradas no dia-a-dia escolar e o desgaste psíquico e físico dele decorrente. Os professores apresentam uma visão crítica das mudanças ocorridas no sistema educacional, mas esta parece referir-se muito mais a uma perda do controlo e de poder que antes possuíam do que propriamente a uma preocupação com as politicas educacionais de uma forma geral e/ou a melhoria da qualidade do ensino. As políticas educativas dos sucessivos governos tendem através de dados estatísticos nacionais e internacionais, de estudos de especialistas altamente especializados em especialidades especiais, de investigações rigorosamente cientificas a culpabilizar os professores pelo actual estado da educação em Portugal e pretendem que os professores se culpabilizem pelo actual estado em que se encontra a educação, da mesma forma que as famílias dos trabalhadores se culpabilizavam pelo insucesso dos seus filhos.


As politicas Educativas: O E.C.D.


As actuais políticas educativas tendem a centralizar as necessárias reformas do ensino em torno de mudanças que afectam fundamentalmente os professores portugueses. Como refere a Frenprof, propõem: - A criação de categorias hierarquizadas, com conteúdos funcionais distintos, que impediriam o acesso ao topo da carreira de cerca de 80% dos professores e educadores. - Um modelo de avaliação do desempenho, que estabelece quotas e assenta em parâmetros inaceitáveis como os relativos às taxas de abandono e insucesso escolar ou a apreciação dos pais sobre a actividade lectiva dos docentes. - A violação de direitos fundamentais, tais como o de maternidade e paternidade, a protecção na doença ou a liberdade de exercício de actividade sindical, entre outros. - A não consideração do tempo de serviço, designadamente o prestado na actual carreira (no escalão que, para o professor, vier a ser o de transição), bem como o prestado no ensino particular e cooperativo ou sob o regime de contratação em escolas públicas. - O efectivo aumento dos horários de trabalho e a tentativa de transferir actividades e responsabilidades atinentes à componente lectiva para a não lectiva. - As exigências para ingressar na profissão, designadamente os termos em que é previsto o período probatório. - A generalização da contratação directa de docentes pelas escolas, bem como a revogação dos contratos administrativos e a sua substituição por contratos individuais de trabalho. - A inexistência de quaisquer consequências positivas na carreira provindas da obtenção de graus académicos superiores (licenciaturas, mestrados e doutoramentos) pelos docentes ou de outras formações acrescidas e pós-graduações.


As necessidades de mudanças: a importância dos professores


O nosso sistema educativo necessita, exige grandes transformações. É necessário realizar transformações vertiginosas que exigem inovações educativas de similar envergadura. Os professores são os que reúnem melhores condições para construir as necessárias respostas para os problemas educativos. Ignorá-los e/ou Hostilizá-los, enfraquecer a sua capacidade de acção, não investir na sua formação contínua, inibir as suas competências para enfrentar os desafios que a globalização comporta como é o caso da invasão de uma cultura de massas que tende a descaracterizar ou a fazer desaparecer as identidades locais não contribui para construção de uma sociedade moderna, solidária e democrática. O uso massificado de novas tecnologias impõem, quer se queira ou não, novas formas de pensamento e a emergência de novos valores que transmutam as nossas identidades. A coabitação de múltiplas culturas nos diferentes contextos escolares fazem emergir perigos inerentes à convivência humana: a formação de estereótipos, representações dos outros que podem conduzir a intolerância, a xenofobia, ao racismo, assim como, a descriminação por razões sociais, étnicas, culturais, sexuais, religiosas, entre outras. A pobreza e a exclusão social que divide os (nosso) alunos em categorias sociais cada vez mais distantes entre si, é uma realidade que não pode ser ignorada. A manifesta incapacidade de em muitas escolas trabalhar com os bons alunos no sentido de estes se tornarem excelentes e, em simultâneo, trabalhar com os que manifestam dificuldades de aprendizagem para que estes consigam atingir os objectivos desejados obriga-nos a reflectir acerca das práticas docentes. A iliteracia e a unumeracia são uma realidade na sociedade portuguesa que exigem medidas capazes de as combater. Os grandes desafios com que estamos confrontados exigem a contribuição dedicada dos professores É necessário ganhar os professores para os desafios que se avizinham e não hostilizá-los como fazem os actuais responsáveis políticos. [1] (O termo Burnout é uma composição de burn=queima e out=exterior, sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de stresse consome-se física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço.)


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terça-feira, outubro 03, 2006

Al Biruni





Poucos séculos na história da humanidade podem se orgulhar do nascimento de um desses raros espíritos voltados poderosamente pa­ra o universalismo, que abordam com igual dedicação todas as disci­plinas do saber praticadas no seu tempo e abrem caminhos novos para territórios ainda desconhecidos. Al-Biruni, um dos grandes sá­bios do mundo islâmico, nascido há 1 000 anos, foi um desses espíritos raros.




Astrónomo, matemático, físico, geógrafo, historiador, linguista, far­macólogo, além de filósofo e poeta, Al-Biruni trabalhador prodigio­so apesar dos contratempos sofridos na sua vida - prestou uma contribuição excepcional ao progresso intelectual da humanidade. Espírito científico na acepção moderna da palavra, ele soube analisar, transmitir, ampliar, e mais ainda, integrar todo o conhecimento ela­borado por seus predecessores e por seus contemporâneos, tanto do mundo mediterrâneo como do mundo indo-iraniano. Foi tão grande a sua contribuição que hoje alguns comentaristas o colocam acima do grande Avicena.



Abu I-Rayhan Muhammad ibr Ahmad al-Biruni não foi apenas um grande sábio da Ásia Central, um homem de espírito enciclopédico. As suas obras marca­ram uma etapa na história do pensamento humano, etapa cuja importância cresce, à medida que novas obras vão sendo descobertas. Quando, há uma centena de anos, a sua Cronologia das Nações Antiga foi publicada em russo, Al-Biruni foi recebido apenas como um dos mais interessantes historiadores medievais. Mas com a descoberta e o estudo das suas obras - sobre matemática, geografia astronomia – o seu prestígio foi crescendo a ponto de empanar o brilho de muitos seus contemporâneos.


Foi no século XIX que a Europa descobriu Al-Biruni. Desde então os estudiosos têm verificado que ele estava tão à frente do seu tempo que suas observações arrojadas são às vezes incompreensíveis para muitos eruditos.


Inventor de uma fórmula de impressio­nante simplicidade para calcular a circun­ferência da Terra, ele lançou também a hipótese do movimento da Terra em volta do Sol e formulou a ideia da alternância cíclica das eras geológicas. “Com o pas­sar do tempo o mar será terra e a terra sucederá ao mar”- foi nessa intuição genial que ele baseou sua teoria da for­mação geológica da Terra.


Como não indagar sobre as condições nas quais Al-Biruni pôde dominar de tão alto a sua época e realizar uma obra que fez de seu nome, pelo menos no Oriente, o símbolo do século XI?


O Estado de Corásmia há muito já se orgulhava de possuir uma civilização avançada. Com seus palácios imponentes, suas mesquitas ricamente decoradas, seus inúmeros colégios religiosos (madraças), as cidades gozavam de uma prospe­ridade que progredia ao lado de um res­peito profundo pelas ciências.


Nos séculos X e XI o califado árabe desmantela-se. E sobre suas ruínas se edifi­carão novos Estados que darão à Ásia Cen­tral uma plêiade de grandes pensadores, entre os quais Abu Nasr al-Farabi e Avicena.


É nessa região privilegiada, e mais pre­cisamente em um subúrbio de Kath, capi­tal da Corásmia, que nasce Al-Biruni a 4 de Setembro de 973. “Ignoro a minha ge­nealogia. Não sei quem foi meu avô. Co­mo poderia saber, se nem sei quem foi meu pai?”, dizem uns versos escritos por ele primeiro preceptor do futuro sábio foi um grego que o destino o fez conhecer na infância. Esse homem instruído encarre­gou Al-Biruni de lhe levar plantas, semen­tes e frutos - e assim nasceu sua voca­ção para o estudo da natureza. “A maior parte dos meus dias passou-se sob o signo dos benefícios e das distin­ções cujos degraus eu não parava de su­bir. A família dos Iraque me nutria com o seu leite, enquanto Mansur me educava.” É assim que Al-Biruni fala da etapa seguinte de sua vida. Com efeito, a história guar­dou o nome de um mecenas pertencente à dinastia local, Abu Nasr Mansur ibn-Ali ibn-Iraq, que iniciou Al-Biruni na geome­tria de Euclides e na astronomia de Pto­lomeu.


O nosso sábio em perspectiva já tinha um pé no portal de uma carreira de astrónomo. Ele estudou as estrelas e os mine­rais para penetrar nos segredos do céu e da Terra, e leu milhares de livros para compreender as engrenagens da história. O primeiro mapa-múndi feito na Ásia Cen­tral saiu de suas mãos, mas ele não foi menos hábil na arte da poesia.


Al-Biruni viveu a atmosfera febril dos últimos anos do poderio dos samânidas e foi testemunha da ascensão e da deca­dência dos impérios Qarakanida e Ghaz­navide. Em muitas passagens dos seus livros percebe-se o eco dos conflitos so­ciais, das guerras dinásticas e das incur­sões bárbaras. Assim como as ciências não podem ficar à margem de sua época, muito menos pode a história. Foram tal­vez os estremecimentos políticos de Co­rásmia que, incitando Al-Biruni a buscar no passado a explicação das vicissitudes de seu tempo, deram-lhe a ideia da sua primeira grande obra.


Al-Biruni tinha 27 anos quando termi­nou a Cronologia das Nações Antigas. “O meu objectivo neste livro - escreveu ele naquele fim do século X - é determinar da maneira mais segura a duração das diferentes eras da humanidade.” E ele co­meça a sua pesquisa nas origens, desde a criação do homem até o dilúvio; depois passa a referir todos os factos então conhecidos sobre a época de Nabucodo­nosor e de Alexandre da Macedónia.


Na Cronologia o leitor curioso inicia-se nas subtilezas dos calendários árabe, gre­go, persa etc. A crónica dos soberanos, dos heróis e dos acontecimentos políticos se mistura com descrições da civilização e dos costumes. Como se vê, trata-se de um trabalho semi-histórico e semi-etno­gráfico, que conserva o seu valor ainda hoje.


(…)


Com este número especial, O Correio da Unesco (Agosto 1974) pretende dar a seus leitores um perfil aproximado desse grande humanista que foi Al-Biruni.

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Trabalho Projecto



Trabalho Projecto


          O projecto presume um risco que é inerente ao próprio projecto que se alimenta através de uma visão antecipatória, mas também da utopia designadamente quando organizada como estratégia global de uma acção com objectivos definidos.




     O projecto educativo compreende o desenvolvimento de acções de afinamento e capacidade e engenho de acomodação aos contextos e intervenientes: “o projecto não deve arrogar-se o direito de dirigir a totalidade das acções dos seus parceiros não devemos concebê-lo na forma de alienação de cada um em prol do bem de todos, o que vai contra o indivíduo entidade” (Broch, 1992, p., 143-1,63), deverá distinguir e valorizar a multiplicidade de métodos e técnicas, bem como os processos de trabalho que suporta. O projecto educativo é organizar e coordenar, planificar, prever, mas também admitir as interacções, a casualidade, o encoberto e o não esperado, tudo isto num “duplo registo: como um processo e como um produto de uma planificação destinada a orientar a organização o funcionamento de ensino tendo em vista a obtenção de determinados resultados” (Barroso, 1992 pp., 29). É essencial uma constante adaptação pedagógica às finalidades e contextos da acção educativa, isto é, um ajustamento: aos contextos curriculares gerais; à comunidade escolar e social; às disciplinas e nível de ensino; aos programas; aos alunos, grupos e turmas; às condições de trabalho; ao modo de ser do professor e sua experiência.




            O projecto é configurador de um modelo de intencionalidade consubstanciado em “objectivos que sirvam de guia à acção, que permitem orientar o conjunto das funções” (Broch, 1992 ) quer isto significar que se organizará com antecedência uma solução estruturada de um problema cuja a decifração ainda não foi elaborada nem é conhecida a respectiva solução. O acto de projectar é um acto cultural, “porque assenta em princípios valores e políticas que se aplicam na acção educativa e pedagógica com os alunos” (Barroso, 1992, pp., 38). O projecto é um desejo de acção que corresponde a um impulso de mudança, a uma vontade, (várias vontades) de fazer qualquer coisa para inovar, ou simplesmente para resolver problemas, enfrentar situações não desejadas, desenvolvendo adesões mais afectivas do que racionais. Mas o que interessa referenciar é o carácter “sedutor da ideia ou a intenção fundadora do projecto e a atracção pelo movimento que a dinâmica do próprio projecto imprime”, (Barroso, 1992, pp., 29) outras vezes o projecto corresponde a necessidades que são diferentes do simples acto de “fazer qualquer coisa” toma-se um desafio do presente para com vista ao futuro, então, o projecto corresponde a uma necessidade de construir algo de coerente de eficaz e pragmático com diz Barroso.




            Não é fruto da bricolage mas do imaginário de todos e cada um de nós, é resultado da internalização de imagens sedutoras, fortes e mobilizadoras de vontades que se estruturaram e fortalecem na acção renovadora da escola.




            Considero que o projecto, o projecto educativo é conveniente à criança tal como a “planta que cresce e que necessita de um meio favorável e estimulante” (Claparede). É importante que a escola em resultado do seu projecto seja: harmoniosa e coerente com essência e que dê hegemonia à expressão global e criadora em desfavor de aprendizagens incipientes e fragmentárias; uma escola que não considere a sala de aula como único lugar de culto do saber; que não seja somente um guardião do passado, nem um refugio do presente; que forneça instrumentos que ajudem a formar a percepção do presente; que ajude a edificar um novo equilíbrio, conseguido através de um mundo mais afectivo que subsidie e ajude a fruir o tempo de cada coisa; onde o que acontece seja conversado, analisado, discutido e integrado na pedagogia do quotidiano; finalmente que o projecto de escola prepare para a cidadania e solidariedade social.


            Projecto educativo determina alterações qualitativas na escola, com refere Barroso: recupera uma nova legitimidade para a escola pública, participa na definição de uma políptica educativa, globaliza a acção educativa, racionaliza a gestão de recursos, mobiliza e federa esforços, passa do eu ao nós. O projecto é uma caminhada longa, nem sempre fácil, por uma estrada que pode ter diferentes e diversos caminhos para chegar ao seu destino.


Broch, M.H. e Cros, F. (1992) O Projecto de Escola Prisioneiro dos Métodos? Os paradigmas metodológicos ligados ao projecto de Escola in Canário R. (org.) Inovação e Projectos Educativos de Escola, Lisboa, Ed Educa. pp. 143-163


Barroso, J. (1992) Fazer da Escola um Projecto in Canário, R. (1992) Inovação e Projecto Educativo de Escola, Lisboa, Ed. pp. 28-56



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