quarta-feira, novembro 22, 2006

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Regresso ao Cemitério do Alto de S. João – Outubro de 2006


Solicitei autorização - por escrito - para investigar os arquivos existentes nos serviços administrativos do Cemitério ao Presidente da C.M.L. Após longos meses de telefonemas e mais telefonemas para os diferentes sectores/departamentos da C.M.L. finalmente consegui a desejada autorização.


Início da investigação. Alguns dias antes de me deslocar ao Cemitério do Alto de S. João, em Lisboa, para iniciar a minha investigação no âmbito do meu projecto de Doutoramento, decidi telefonar para o Chefe dos Serviços Administrativos, Sr. Adriano para o informar da minha deslocação e, consequentemente, dos livros que necessitaria de consultar.

O telefonema que efectuei é assaz interessante razão pela qual considero dever regista-lo. Tudo começou desta forma:

Ligo o número, alguém, do outro lado, atende.

- Cemitério do Alto S. João.

- Bom dia, desejo falar com o Senhor Adriano.

- Um momento.

- Está, sim, respondem-me do outro lado da linha.

Bom dia Senhor Adriano, fala Carlos Jorge. Solicitei autorização ao Senhor Presidente da C.M.L. para investigar, no âmbito do meu projecto de doutoramento, um dos jazigos existentes no Cemitério, assim como, tudo o que diga respeito aos corpos nele existentes. Estou a telefonar-lhe para combinar com o senhor a minha deslocação aos arquivos do Cemitério. A carta que recebi, da C.M.L., informa-me que devo combinar com o Senhor a minha deslocação.

- O que é que o senhor pretende? Não me vai levar nenhum dos mortos, pois não?

-Não, não vou levar-lhe nenhum dos mortos. Retirar-lhe-ei alguma informação de que necessito, nada mais.

- Fico mais descansado.

-Pretendo deslocar-me ao cemitério na próxima 6ª feira, dia 13 de Outubro. É possível?

- Sim.

-Sairei do Porto, às sete horas e chegarei a Lisboa às onze horas, onze e trinta. Como já conheço o vosso arquivo, há uns anos estive aí a consultar documentos no âmbito do meu projecto de mestrado, penso que, nesta face, conseguirei fazer o que tenho a fazer até às dezasseis dezassete horas. Pode ser?

- Sim, combinado.

- Então até sexta-feira e muito obrigado.

- Até sexta-feira.

Na sexta-feira sai do Porto às sete horas e trinta minutos. Como sempre foi uma viagem cansativa: três horas e meia com uma paragem de quinze minutos, normalmente em Leiria.

Cheguei a Lisboa apanhei o metro até à Alameda e daqui para telheiras. Sai em Arroios. O percurso, da Praça do Chile até ao Cemitério, foi feito a pé. De facto somente em Lisboa é que ando a pé. O que é um disparate porque necessito de fazer algum exercício para manter algum bem-estar físico e psíquico, que me começa a faltar.

Este percurso, da Praça do Chile ao Alto S. João, foi palmilhado, por mim, centenas de fezes durante a minha adolescência: morava na Rua de Santa Bárbara e estudava na Escola Comercial Patrício Prazeres. Passar por todas aquelas ruas é regressar ao passado e rever tempos (in)felizes da minha adolescência. É bom, muito bom recordar, reviver acontecimentos passados, e pensar que para eles olhamos como se fossemos observadores de nós próprios. Somos um outro que nos observa. Sem julgar, penalizar ou procurar, outra coisa que não seja, observar. Eu, que me observo, pelos caminhos antes percorridos. E que caminhos antes percorridos?!

Já no interior dos serviços administrativos do cemitério dirijo-me ao balcão e informo o funcionário, que se abeira de mim, que desejo falar com o senhor Adriano, chefe dos serviços administrativos.

- Quem anuncio?

- Diga-lhe, por favor, que está aqui o senhor que veio do Porto para consulta de alguns dos livros aqui existentes. Combinamos pelo telefone a minha visita.

- Um momento…

Espero alguns momentos e aparece-me o tal senhor Adriano que me convida a entrar.

- Então o que é que deseja consultar? Pergunta-me.

- Pretendo consultar alguns dos livros existentes e no caso de encontrar alguma informação, que me interesse, fotocopiá-la.

- Nem pensar, fotocopias não! Disse-me.

- Pode consultar o que entender mas não autorizo fotocópias.

- Senhor Adriano, não é da sua responsabilidade autorizar-me ou não tirar fotocópias. Já tenho autorização para consultar, filmar, fotografar e fotocopiar o que quer que seja no âmbito da autorização que me foi concedida. Se o senhor não foi informado aconselho-o a informa-se para que me seja possível realizar a minha investigação. O senhor deverá ter recebido dos serviços da C.M.L. um exemplar da autorização que me foi enviada. Informe-se…

O Senhor Adriano deixou-me e eu iniciei o meu trabalho. Alguns momentos depois aparece-me e diz-me: afinal tenho ali a autorização. Terá que pagar as fotocópias.

- Claro, senhor Adriano. Pagarei!

O Senhor Adriano é um burocrata moderno. Parece ser cumpridor das normas da administração pública, mas não deixou alguns dos tiques que caracterizavam a velha burocracia pública: exigiam subserviência a todos os que a ela se dirigiam. A gestão da coisa pública era feita em nome de um supremo interesse da mesma. E a defesa desse supremo interesse estava armazenada numa velha caixa forte, num canto do sótão empoeirado, existente na cabeça do chefe dos serviços.

Esclarecidas as coisas, o Senhor Adriano, facultou-me tudo o que necessitava para o desenvolvimento do meu trabalho. Uma funcionária da parte da manhã e outro da parte da tarde, tiraram todas as fotocópias que lhes solicitei e colocaram à minha disposição, (todos) os registos que lhes solicitei. Não foram nada simpáticos! Não tinham que ser. Foram eficientes, rápidos e responderam de forma eficaz a tudo o que lhes solicitei.

Paguei as fotocópias que tirei. Tive desconto por ser estudante e recebi uma factura do que paguei.

Agradeci e prometi voltar.

Antes de sair do cemitério decidi visitar alguns dos jazigos que investiguei documentalmente. Os jazigos a visitar estavam em extremos opostos. Andei, andei, localizei um. Procurava outro, e porque estava a ser difícil localiza-lo, solicitei ajuda ao motorista do pequeno autocarro que circula no interior do cemitério. O senhor prontamente me disse: entre vou transporta-lo ao jazigo que procura.

Regresso ao cemitério do Alto de S. João…


6ª feira, dia 13 de Outubro de 2006



Mauel Antonio Botas


Hernâni Saragoça num artigo publicado na revista Novo Burladero (1991, Julho/Agosto, nº 91) escreve, a cerca Manuel António Botas, o seguinte:



“João Sedvem, quando foi empresário da antiga Praça de Sant'Ana, entusiasmou-se um dia, com a extrema precocidade para o toureio que dava mostras um rapazola exímio em várias sortes. Manuel Botas, pois é dele que escrevemos tornou-se um hábil bandarilheiro desfrutando entre os aficionados do seu tempo, de grande popularidade. Durante muitos anos, a sua presença foi indispensável nas arenas, pois dizia-se até que era o bandarilheiro que mais dinheiro cobrava das empresas. Aos 60 anos, precisamente em 1885, Manuel Botas decidiu retirar-se dos redondéis, embora se conservasse integrado no meio tauromáquico, pois para além dos 90 anos ainda dirigia corridas, actividade a que se dedicou no espaço de 30 anos. Era vê-lo, muito elegante a dirigir os espectáculos de sobrecasaca e chapéu alto. O simpático e popular bandarilheiro faleceu em 1 de Fevereiro de 1912, quando contava 97 lúcidas primaveras.”


Assinatura de Manuel António Botas



Registo Paroquial: 24 de Dezembro de 1867



Manuel António Botas foi uma personalidade de referência da sociedade oitocentista Lisboeta/Nacional. Pela escrita de Júlio de Sousa e Costa (1939) - um jovem jornalista, que entrevista Botas em 1896 -, foi possível conhecer o honradíssimo velho Manuel António Botas. Manuel António Botas cantava o fado, tocava guitarra, era bandarilheiro e foi, durante trinta anos, dirigente de corridas. Dirigia, elegantemente de sobrecasaca e chapéu alto, os espectáculos taurinos. Foi um homem do seu tempo: era uma das figuras mais conhecidas da minha boa cidade de Lisboa, escreve Júlio de Sousa e Costa. Ensinava o fado aos jovens fadistas, como refere Pinto Carvalho (1994) e cantava à desgarrada com a Severa, como escreve Marina Tavares Dias. Era o bandarilheiro que mais cobrava das empresas, escreve Hernâni Saragoça. António Manuel Morais refere que a sua última actuação foi na Praça da Boavista em 1885 e que praticou salto à vara de 1854 a 1870.

Projecto de Doutoramento em Sociologia:Relações inter-étnicas, dinâmicas sociais e estratégias identitárias

Projecto de Doutoramento

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ÁREA: Sociologia
ESPECIALIDADE: Relações Interculturais

Orientadora: Professora Doutora Ana Paula Beja Horta – U.A.
Co-orientador: Professor Doutor Fernando Luís Machado – I.S.C.T.E
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Título:

Relações inter-étnicas, dinâmicas sócias eestratégiasi dentitárias
da Comunidade Cigana residente em Portugal - 1825 - 1957

(Título Provisório)



quarta-feira, novembro 15, 2006

Carta ao Presidente da C.M.P.

Exmo. Senhor Presidente
da Câmara Municipal do Porto


A primeira vez que me dirigi, por escrito, ao senhor Presidente foi para lhe solicitar que diligenciasse no sentido de a BPMP me facultasse a leitura do livro “Fado e Tauromaquia no Século XIX” de António Manuel Morais, edição de 2003, que estava registado, sem cota atribuída na B.P.M.P, na Base Nacional de Dados Bibliográficos – PROBASE.


A resposta definitiva à minha solicitação - por parte dos serviços da CMP - nunca me foi dada por escrito. Falei telefonicamente com o senhor Director da Cultura, Dr. Raul Matos Ferreira em 8 de Agosto. Nesta conversa ficou claro que a única possibilidade que me restava era requisitar o livro noutra biblioteca porque a BPMP não o tinha disponível. O Senhor Director informou-me que os serviços da BPMP requisitariam o referido livro à Biblioteca de Coimbra, assim seria mais rápido. Aceitei. No regresso de férias esperei que entrassem em contacto comigo. Nada! Decidi telefonar no dia 26 de Setembro para saber se já tinha o livro à minha disposição. Fui informado pelo Senhor Director que o livro já estava na biblioteca para ser consultado. Agradeci.


Logo que me foi possível desloquei-me à BPMP: surpresa das surpresas o que me foi entregue não foi o livro mas um quantidade de fotocopias do livro. Não solicitei mais nada. As fotos, existentes no livro, que necessitava de consultar não estavam suficientemente perceptíveis para serem analisadas. Fui a Lisboa e resolvi o meu problema.


Este assunto estava definitivamente encerrado!


Mas, acontece que a (des)organização da BPMP me obriga a voltar a escrever-lhe. Hoje dia 14 de Novembro de 2006 voltei à BPMP e, como sempre, levo a minha pasta de plástico transparente com os meus objectos pessoais (óculos, lupa, esferográfica, lápis, caderno, folhas diversas, etc. etc.). A pasta e os objectos pessoais que uso na BPMP, são os mesmo que utilizo na Torre do Tombo e na Biblioteca Nacional quando aqui me desloco.





Em nenhum destes locais alguma vez me disseram que não podia usar a referida pasta. Acontece que hoje, quando já estava de saída da biblioteca; depois de ter saído da casa de banho, decidi “dar uma vista de olhos” nos livros colocados nas prateleiras da sala contígua à referida casa de banho. Para evitar qualquer mal entendido coloquei a pasta na secretária existente no lado direito da sala. Quando me deslocava para dar uma “vista de olhos” nos livros, o funcionário Pedro, informou-me que não poderia utilizar aquela pasta e que os seus colegas não me deveriam ter deixado entrar com ela. Informei-o que sempre entrei com a pasta na BPMP; nunca ninguém me tinha dito nada; os seus colegas, das salas onde costumo trabalhar, nunca me interpelaram acerca da mesma; utilizo a mesma pasta na TT e na BN. O funcionário Pedro Velho e a sua colega insistiram na impossibilidade de entrar na BPMP com a pasta.


Atendendo a que necessito de voltar à BPMP e à discrepância das atitudes: os que consideram que a pasta é suficientemente transparente para ser utilizada no interior da BPMP e os funcionários, como é o caso do Sr. Pedro Velho e da Senhora Fernanda Rodrigues, que consideram que não, decidi pedir o livro de reclamações para registar os lamentáveis acontecimentos e exigir uma informação objectiva acerca do que se deve usar no interior da biblioteca.


Em vez de me entregar o livro o funcionário pegou no telefone e chamou a Dr.ª. Paula para esclarecer o assunto. A Dr.ª Paula é uma senhora simpática e prestável mas não foi capaz de responder de forma clara e objectiva ao problema que se colocava. Começou por considerar que a pasta era suficientemente transparente para ser usada no interior da biblioteca. O nosso diálogo desenvolveu-se, acabando a Dr.ª Paula por telefonar para alguém (?) que a informou da impossibilidade de utilizar uma pasta que não seja


transparente. Descemos os dois até ao bengaleiro para ouvir a senhora Margarida, funcionária do bengaleiro, dizer que a (minha) pasta não é suficientemente transparente para entrar na BPMP.



A Dr.ª Paula sugeriu que resolvêssemos a questão… Eu considero que existe somente uma forma de resolver estas questões: colocar na porta de entrada da biblioteca o regulamento da mesma onde esteja claro entre outras questões o que se pode transportar para o interior da biblioteca. Não aceito, não é admissível, que as decisões do que é possível levar para o interior da BPMP fique dependente dos critérios de cada um dos funcionários da mesma. Os normativos da BPMP, se existem, devem estar afixados nos locais próprios. Concordo plenamente com a necessidade de desenvolver procedimentos e adoptar condutas que preservem o espólio cultural existente na BPMP; concordo que se reforce a vigilância, se for caso disso; que se organize e melhor o funcionamento da BPMP. Mas, por favor, informem-nos dos procedimentos e das condutas adoptas.


Senhor Presidente,


Este tipo de solicitação é ridículo. De facto os normativos da biblioteca deveriam ser suficientemente claro! Porque é que não são?


Responda, por favor, por escrito, a esta minha reclamação; proíba a utilização dos telemóveis no interior das salas de leitura, sobretudo os dos funcionários que estão constantemente a tocar; desenvolva acções de formação para os funcionários da BPMP; melhor, na medida das suas possibilidades, a preservação dos jornais, revistas, livros e outros documentos importantíssimos existentes na BPMP e exija à senhora Directora da BPMP que afixe os normativos da biblioteca.


Com os meus cumprimentos,


Porto, 14 de Novembro de 2006-11-14



segunda-feira, novembro 13, 2006

CREATIVE COMMONS

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(...)


tradutor